Sabe
aquele recado que você recebe e não sabe interpretar? Assim aconteceu comigo.
Em meados de 2002, fomos convidados por um casal para fazer um Encontro de Casais
com Cristo ( ECC). Não somos chegados a esse tipo de evento; nem eu nem o meu
marido. Mesmo assim, aceitamos o convite
em consideração ao casal: Sandra e Marcos Mucarbel.
O
encontro foi maravilhoso. Conheci algumas pessoas, orei, cantei, sorri, chorei;
enfim, foi emocionante e valeu a pena ter participado. Saí do encontro leve
como uma pluma, feliz. Por que não dizer, renovada? Talvez já estivesse sendo preparada
espiritualmente para os novos desafios que estavam por vir. Uma prova do amor
de Deus por nós.
Com o
encerramento do evento, vieram os pós- encontros. No primeiro, os casais tiveram a oportunidade
de verbalizar o significado do encontro para cada um. Lembro-me de algumas
palavras que proferi na ocasião:
-Vou deixar o meu filho partir para que Jesus tome conta dele.
Fazia 6 (seis) anos que o meu filho mais velho
tinha falecido.
-Agora vou viver e tomar conta do meu filho
que ficou.
Eu realmente estava feliz e em paz com Deus e com o
mundo.
E daí,
mais outros e outros eventos. Até que um dia, não lembro se no segundo ou
terceiro pós-encontro, tive dificuldades de locomoção e por pouco não deixei de
participar. Mas um amigo, que eventualmente passou em nossa casa, deu-nos uma
carona até a Igreja. Sabia que para voltar seria mais fácil; algum casal do
grupo nos deixaria em casa.
Nesse
encontro, -não lembro a data e nem o dia da semana- a palestra seria ministrada
por um casal setorial do Município de Abreu e Lima. Deles eu nunca esqueci porque num dado
momento do encontro eles interromperam o
que estavam falando e disseram que tinham um pedido a fazer.E começaram a
informar-nos que se encontrava no espaço externo da igreja uma senhora com um
bebê e que eles não tinham onde passar a noite.
Perguntaram se alguém do grupo poderia acolhê-los naquela noite.
Silêncio total. Retomaram o tema do qual
estavam tratando anteriormente, como se nada tivesse acontecido. O fato mexeu
com cada um de nós e com a nossa consciência cristã. A mulher continuava
falando até que, num dado momento, ela perguntou:
-Alguém
vai abrigar a mãe e o bebê? Eles continuam lá fora.
Falava isso
e logo retomava o rumo da palestra.
Passados alguns minutos , voltou a tocar no
assunto. Aí falei:
-
Não é que as pessoas não queiram abrigar a mãe e o filho; é que o mundo está
tão maluco que as pessoas ficam com medo de colocar pessoas estranhas em suas
casas e de certa forma expor suas famílias.
Então
ela sugeriu o seguinte:
- Nós
podemos levá-los em casa. Como moram
longe, e estamos com pouca gasolina,
vocês podem nos ajudar com o dinheiro da
gasolina? E, nesse exato momento, as pessoas começaram a contribuir para que o
casal palestrante pudesse deixar a mãe e o seu bebê em casa, são e salvos.
Já estava
próximo de terminar a palestra, quando
ela deu uma nova desculpa por não poder ir deixar mãe e filho em casa. E mais uma vez perguntou se algum casal podia
acolher aquela mãe e o seu filho por uma noite. Ai falei para o meu marido
que eu iria ficar e ele concordou. Então
disse:
- Nós os levamos para pernoitarem em nossa
casa. Nesse momento ela nos convidou para irmos até o altar. E dirigindo-se ao
casal disse:
- Podem
trazer a mãe e o seu filho. Vocês vão ser os padrinhos dele.
Nesse
momento comecei a chorar porque imaginava que iriam trazer uma criança para
que adotássemos, uma vez que eles sabiam que nós tínhamos perdido um filho. Muita coisa passou na minha
cabeça naquela hora e eu não parava de chorar. Até que me entregaram uma caixa.
Ela pediu para que abrisse porque o endereço estava na caixa. Abri, mas não
tinha nenhum endereço. Eu falei não haver encontrado nada, porém ela insistia.
No momento me dei conta de um pequeno volume. Ao abrir, deparei-me com a imagem
de Nossa Senhora com o Menino Jesus no colo. A emoção era muito grande; não
sabia definir o que sentia naquele momento. Em seguida, esclareceu que era uma dinâmica de grupo. Que
graças à Deus ela não estava precisando de gasolina. Não lembro bem, mas acredito
que o dinheiro tenha ficado para a igreja. Estava muito emocionada para me
apegar a esses detalhes.
Terminado
o encontro, fomos deixados em casa por um casal do grupo. Estava eufórica e inquieta. Chamei o meu filho Adeildo Carlos e contei
tudo o que aconteceu na igreja. E falei-lhe:
- eu
acredito que recebi um recado; só não estou sabendo interpretar.
Ele concordou
comigo. Ficamos acordados até às 3 horas da madrugada.
Esse Encontro
de Casais com Cristo me deu suporte para encontrar a força e a fé necessária,
para encarar o novo que mais uma vez
chegava a nós, como a DW ( Doença de Wilson) no meu filho caçula. Se Nossa Senhora suportou
ver o sofrimento do seu Filho, vendo-o ser crucificado, pude compreender que as
mães têm uma proteção especial para que possam suportar as dores mais cruciais
que a vida lhes apresenta.